Identificando e neutralizando uma Botnet

De Wiki BPF
Revisão de 15h14min de 8 de julho de 2023 por Gondim (discussão | contribs)
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Atualmente a maior preocupação de todo ISP (Internet Service Provider) e ITP (Internet Transit Provider) são os ataques DDoS (Distributed Denial of Service) recebidos em suas Redes e a indisponibilidade que eles podem causar derrubando sua infraestrutura e seus clientes. Criamos mecanismos de defesa como: sistemas de detecção de anomalias como por exemplo o Wanguard, anunciamos os prefixos atacados para nossas nuvens de mitigação e assim fazemos a limpeza do tráfego. Mas e quando sua rede também está fazendo parte dos ataques de DDoS e atacando outros ASNs na Internet? Poucas pessoas se preocupam com o que saem de suas Redes e isso pode estar impactando sua operação e causando insatisfação em seus clientes. As Portas de Amplificação abertas e Botnets são as principais causas para esses problemas. Como tratar Portas de Amplificação você pode ler nesse meu artigo Portas de Amplificação DDoS e Botnets mas aqui vamos falar de algo um pouco mais trabalhoso, que seria como identificar e neutralizar uma Botnet que se instalou na sua Rede.

Entendendo uma Botnet

Primeiro temos que entender como elas funcionam: são diversos, milhares de dispositivos vulneráveis que são invadidos e infectados com programas (bots) que se conectam em servidores chamados C&C (command and control). O dispositivo pode ser qualquer um infectado como CPEs, ONUs roteadas, computadores, enfim qualquer coisa que tenha um IP e possa acessar a Internet. Esses dispositivos infectados uma vez conectados nesses C&C podem receber e executar diversas tarefas para o cibercriminoso como por exemplo: envio de spam, roubo de informações e orquestrar ataques sincronizados em uma determinada vítima. Esses ataques saem com uma certa volumetria da sua rede e isso pode saturar diversos pontos da sua infraestrutura causando indisponibilidade para seus clientes. Seria um DDoS ao contrário, da sua Operação para a Internet.

Panorama de uma Botnet em andamento e atacando uma vítima

Para vermos os estragos que uma Botnet pode causar abaixo um gráfico dos momentos de ataques que saíam da Operação com destino à vítimas:

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Na imagem acima podemos observar diversos picos de mais de 4Gbps com destino a Internet. Agora vamos imaginar o que esses picos estariam causando em suas portas PON das suas OLTs e quantos clientes poderiam estar sendo afetados. Quanto maior a infecção da Botnet maior será o poder de ataque desses cibercriminosos. Percebam que só é possível identificar visualmente essa situação, se vocês tiverem ferramentas de monitoramento como um Zabbix por exemplo. Monitoramento é vital e fundamental para identificarmos algo impactante em nossa Operação.

Coleta inicial de informações

Para tratar esse incidente, precisaremos identificar pelo menos 1 dispositivo infectado e observar o tráfego desse dispositivo para entendermos como é a comunicação entre os bots e seus C&C. Apenas pelo monitoramento acima não teremos essa resposta, nesse caso entra como um dos fatores de busca a ferramenta de análise de anomalias, como por exemplo: Fastnetmon, Wanguard, Kentik. A ideia é analisar os flows coletados na hora da saída do ataque, observar as anomalias de uploads que estourem thresholds de upload e ainda podemos analisar casos envolvendo pacotes UDP, que causam mais estragos. Desse jeito podemos eleger alguns possíveis candidatos infectados para que possamos monitorar de perto.

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Próximo passo montar ambiente de análise da Botnet

Agora que temos alguns candidatos infectados, precisamos montar um ambiente lab para que possamos monitorar e registrar os ataques. Observar o comportamento deles e quem aciona eles. Para isso vamos precisar de um GNU/Linux, que neste artigo será um Debian mas poderá ser qualquer outra distribuição que tenha um tcpdump para fazermos a análise dos pacotes, precisaremos de uma interface apropriada que consiga receber o tráfego da interface por onde estão vindo os ataques. Exemplo:

Vamos supor que os ataques estejam vindo de uma interface onde tem um BNG/B-RAS PPPoE e o tráfego seja de uns 4Gbps, nesse caso colocaríamos uma interface de 10Gbps nesse GNU/Linux, ligamos na switch e fazemos um espelhamento (mirror) da porta do BNG/B-RAS para a porta onde temos nosso GNU/Linux. Dessa forma todo o tráfego passante na porta do BNG/B-RAS poderá ser analisado no GNU/Linux. Alguns teriam a ideia de fazer a análise diretamente no equipamento BNG, por exemplo em um Mikrotik usando o torch, mas não aconselho pois esse tipo de análise pode elevar o consumo de CPU do seu equipamento a 100% e isso não é bom. Então o jeito mais seguro e sem mexer muito no seu ambiente de produção, é esse que estou propondo.

Monte um equipamento para esse tipo de análise e já deixe pré configurado em seu ambiente:

CPU Sistema Memória Disco Interface de Rede
Quad Core Debian GNU/Linux 8 a 16Gb SSD 120Gb Intel X520-SR2 (2 portas de 10GbE)

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Analisando os pacotes

Para analisarmos os pacotes do dispositivo infectado vamos utilizar o programa tcpdump. Caso não conheça e não tenha familiaridade com ele, recomendo a leitura deste livro Análise de Tráfego em Redes TCP/IP do autor João Eriberto Mota Filho.

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Após eleger um dispositivo infectado, pegamos o IP dele para monitorarmos suas atividades em busca dos ataques quando ocorrem. Irei colocar aqui exemplos reais de uma recente Botnet descoberta e neutralizada. Colocamos nosso sniffer (tcpdump) monitorando conforme o exemplo abaixo:

# tcpdump -i enp2s0f0 -n | egrep "100\.64\.224\.6\." | tee botnet.txt

Obs.: o exemplo acima está sendo feito com egrep para enxergarmos os pacotes encapsulados mas se quisesse ver os pacotes PPPoE por exemplo: tcpdump -i enp2s0f0 -n "pppoes and host 100.64.224.6"

Nesse exemplo acima estamos monitorando a interface de 10GbE enp2s0f0 , observando os pacotes com IP do dispositivo 100.64.224.6 e armazenando no arquivo botnet.txt. Quando perceber o pico sainte de ataque no flow da ferramenta de análise que comentei, por exemplo o Wanguard, teremos registrado os pacotes que precisamos e então podemos encerrar o comando acima e analisar nosso botnet.txt. Faremos o comando abaixo e observem meu nosso exemplo:

# egrep "100\.64\.224\.6\." botnet.txt |less

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Dentro da janela 2 podemos ver o início do disparo do ataque para a vítima IP 103.216.154.99, diversos pacotes ACK para a porta de destino 88/TCP. Na janela 1 podemos perceber o início da comunicação entre o dispositivo infectado e o servidor C&C no IP 77.105.138.202 porta 35342/TCP. Logo após a comunicação entre eles, se inicia o ataque para a vítima.

Podemos fazer uma busca via whois nesse IP e coletar dados para posterior contato com o ASN responsável pelo IP e também consultar o PeeringDB. Para cortar a comunicação com o C&C, a forma mais efetiva e sem gerar custos de CPU é criado uma blackhole na sua borda para esse IP do servidor C&C. Infelizmente esse trabalho não é tão rápido pois em uma Botnet pode haver mais de um servidor C&C e por isso precisamos continuar monitorando e bloqueando os IPs até que os ataques parem.

Depois de uma análise melhor percebemos que todos os servidores C&C estavam escutando na porta 35342/TCP e então começamos a monitorar o IP e porta assim:

# tcpdump -i enp2s0f0 -n | egrep "100\.64\.224\.6\." | egrep "\.35342:"

Então pegamos todos os servidores C&C e adicionamos em blackhole na borda, cortando a comunicação dos dispositivos infectados. De tempo em tempo o dispositivo tentava se comunicar com algum C&C conforme abaixo. Podemos observar os pacotes SYN da tentativa de comunicação com os servidores do Botnet.

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Panorama após os bloqueios da Botnet

Depois de todos os bloqueios realizados não foram mais registrados ataques saintes para a Internet. Esse tipo de ação não limpa o dispositivo infectado mas lhe dá tempo para fazer essa limpeza posteriormente, sem que os clientes sejam penalizados no processo.

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Conclusão

Precisamos manter nossa Infraestrutura de Redes sempre segura e principalmente os ativos na ponta do cliente como é o caso das CPEs. Escolham equipamentos corretamente, onde os fornecedores tenham preocupação com segurança, que suportem corretamente o IPv6. Equipamentos configurados com usuário e senha padrão de fábrica são alvos fáceis para formação de Botnets. Procurem equipamentos que sigam a BCOP de CPEs Trocar equipamentos de core, pode ser mais simples que trocar milhares de CPEs infectadas nos clientes. Pensem sempre nisso.

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Autor: Marcelo Gondim