DNS Recursivo Anycast Hyperlocal
Descrição
Um dos recursos extremamente importante para o acesso à Internet é o DNS (Domain Name System) e sem ele teríamos que decorar milhares de endereços IP para acessar sites e serviços na Internet. Basicamente temos 2 tipos de DNS, o recursivo e o autoritativo. O recursivo é um serviço que utilizamos para fazer consultas aos DNS(es) Autoritativos que são aqueles responsáveis pelas tabelas que associam o host name a um IP e no caso de resolução reversa, o IP ao host name. O exemplo mais comum de DNS recursivo é o do Google, os IPs 8.8.8.8, 8.8.4.4, 2001:4860:4860::8888 e 2001:4860:4860::8844. Se você está estranhando os 2 últimos endereços, é porque provavelmente ainda não ouviu falar de IPv6 e isso não é bom. Procure estudar sobre isso e um bom lugar para começar é aqui. O serviço de DNS deve ser levado muito a sério pelas empresas que o implementam, porque a sua falha pode literalmente parar a Internet para milhares de pessoas que confiam nele ou até pior, um DNS mal intencionado ou comprometido, pode ser usado para direcionar usuários a acessarem sites falsos. Esse artifício visa coletar as credenciais dos usuários e assim poderem aplicar golpes e outras formas danosas e prejudiciais à vítima. Ter um DNS recursivo é muito bom para o ISP, mas cuidar dele, mantê-lo atualizado e protegido, é mais importante ainda.
Nesse artigo mostrarei a configuração de um DNS recursivo anycast, diferente dos DNS recursivos unicast comumente encontrados pelos ISPs a fora. No modelo Unicast, normalmente se tem um ou mais servidores de DNS que são consultados e estão fisicamente em um local. O problema é que essa abordagem não poderia ter por exemplo, 5 servidores, e utilizar todos configurados ao mesmo tempo nos sistemas, porque muitos sistemas só aceitam até 3 servidores recursivos em suas configurações e mais que isso são ignorados. Você poderia então utilizar apenas 2 servidores, isso resolveria o problema mas eles precisariam estar em um determinado local. Mas e se lá na frente você resolver abrir seu negócio em uma outra cidade e em outro estado? Nesse caso poderia continuar usando os mesmos servidores mas aumentando um pouco a latência. Mas se acontecesse algo na interconexão desses servidores? Com o uso do DNS Anycast você poderia ter um servidor DNS recursivo em cada cidade e respondendo pelo mesmo IP. Em caso de problemas com qualquer servidor, o outro passaria a responder para todos os seus assinantes. Além desse recurso, usaremos o Hyperlocal que é uma técnica que faz uma cópia das tabelas dos DNS Root Servers e mantém localmente no seu servidor recursivo. Isso deixa rápida toda resposta que seria endereçada primeiramente aos DNS(es) Raiz da Internet, principalmente consultas de domínios inválidos ou digitados erradamente.
Diagrama
Para que possamos visualizar nossa configuração, abaixo temos um diagrama hipotético dos nossos servidores e da rede em si:
Explicando o cenário: cada servidor DNS fechará uma sessão iBGP com o seu router através dos endereços /30 IPv4 e /64 IPv6 (usando IPs de documentação RFC3849 e RFC5737 representando seus IPs públicos). Nessa sessão BGP serão anunciados os IPs privados RFC1918 e RFC4193 configurados nas loopbacks que serão: 10.10.10.10 e fc00::10:10:10:10. Divulgando esses IPs privados para os assinantes, você esconde o real IP público dos servidores, evitando que alguém de fora envie ataques para seus servidores DNS.
Servidores utilizados
- VM com 4 cores (Intel(R) Xeon(R) Silver 4214R CPU @ 2.40GHz).
- 4Gb memória.
- 20Gb disco.
Softwares utilizados
Para instalação e configuração dos Servidores DNS Recursivos utilizaremos Software Livre, o que nos permite uma economia em licenças de sistemas fechados e proprietários. Abaixo a descrição deles:
- Debian Linux Buster (10.x).
- FRRouting 7.5.1.
- Unbound 1.9.0 (pacote da distribuição Debian). Obs.: essa versão do Unbound já possui suporte ao Hyperlocal nativo.
- IRQBalance (pacote do Debian).
- OpenNTPd (também pacote do Debian).
- Shell script em bash, para checar se o DNS está OK e se não tiver retirar ele do anúncio.
Gráfico de utilização desse sistema em produção
Instalação e configuração do Servidor 1
Instale um sistema Debian 10 com o mínimo necessário, uma versão que costumo utilizar bastante é a que vem com firmwares e pode ser encontrado aqui. Atualmente está na versão 10.10, mas caso lancem uma versão mais recente, basta alterar o link. Não cobriremos a instalação do Debian, pois existem diversos vídeos no Youtube ensinando como proceder. Após a instalação faremos os ajustes na configuração para que possa então acomodar nosso serviço de DNS.
Instalação dos pacotes
FRR
Vamos configurar o repositório oficial do FRR e instalar os pacotes. O FRR é um fork do Quagga e será o responsável pela sessão BGP entre o servidor DNS e o router:
# echo "deb https://deb.frrouting.org/frr buster frr-stable" > /etc/apt/sources.list.d/frr.list # curl -s https://deb.frrouting.org/frr/keys.asc | apt-key add - # apt update # apt install frr frr-doc frr-pythontools
Unbound
O Unbound é exatamente o serviço de DNS recursivo que vamos utilizar nesse artigo. Por que o Unbound? Porque ele só faz recursividade, que é o que desejamos e faz isso com uma excelente performance e segurança. Ele é desenvolvido pela NLNet Labsmesma empresa que desenvolve o Krill e Routinator, utilizados na implantação do RPKI e o NSD (servidor DNS autoritativo) e todos sempre pensando em segurança.
# apt install unbound
IRQBalance
O IRQBalance é um programa bem conhecido por distribuir o processamento entre os cores do servidor.
# apt install irqbalance # systemctl enable irqbalance
OpenNTPd
Para manter o sistema sempre com o horário correto, usaremos o OpenNTPd configurado para usar o Pool do Nic.BR.
# apt install openntpd Deixe o arquivo /etc/openntpd/ntpd.conf conforme abaixo e reinicie o serviço openntpd: # $OpenBSD: ntpd.conf,v 1.14 2015/07/15 20:28:37 ajacoutot Exp $ # sample ntpd configuration file, see ntpd.conf(5) # Addresses to listen on (ntpd does not listen by default) #listen on * #listen on 127.0.0.1 #listen on ::1 # sync to a single server #server ntp.example.org servers pool.ntp.br # use a random selection of NTP Pool Time Servers # see http://support.ntp.org/bin/view/Servers/NTPPoolServers #servers pool.ntp.org # Choose servers announced from Debian NTP Pool #servers 0.debian.pool.ntp.org #servers 1.debian.pool.ntp.org #servers 2.debian.pool.ntp.org #servers 3.debian.pool.ntp.org # use a specific local timedelta sensor (radio clock, etc) #sensor nmea0 # use all detected timedelta sensors #sensor *
Configurando a rede
/etc/network/interfaces:
# This file describes the network interfaces available on your system # and how to activate them. For more information, see interfaces(5). source /etc/network/interfaces.d/* # The loopback network interface auto lo iface lo inet loopback auto lo:0 iface lo:0 inet static address 10.10.10.10/32 iface lo:0 inet6 static address fc00::10:10:10:10 netmask 128 # The primary network interface auto ens160 iface ens160 inet static address 192.0.2.2/30 gateway 192.0.2.1 iface ens160 inet6 static address 2001:db8::192:0:2:2 netmask 64 gateway 2001:db8::192:0:2:1
Configurando o FRR e a sessão BGP com o router
Em /etc/frr/daemons modifique o valor bgpd=no para bgpd=yes, dessa forma habilitaremos o BGP no FRR. Feito isso precisaremos reiniciar o serviço frr:
# systemctl restart frr.service
Nosso arquivo /etc/frr/frr.conf ficará assim:
frr version 7.5 frr defaults traditional hostname unbound1 log syslog informational no ip forwarding no ipv6 forwarding service integrated-vtysh-config ! router bgp 65000 bgp router-id 192.0.2.2 no bgp ebgp-requires-policy no bgp network import-check neighbor 192.0.2.1 remote-as 65000 neighbor 2001:db8::192:0:2:1 remote-as 65000 ! address-family ipv4 unicast network 10.10.10.10/32 neighbor 192.0.2.1 prefix-list BLOQUEIA-TUDO in neighbor 192.0.2.1 prefix-list RECURSIVO out exit-address-family ! address-family ipv6 unicast network fc00::10:10:10:10/128 neighbor 2001:db8::192:0:2:1 activate neighbor 2001:db8::192:0:2:1 prefix-list BLOQUEIA-TUDO_V6 in neighbor 2001:db8::192:0:2:1 prefix-list RECURSIVO_V6 out exit-address-family ! ip prefix-list BLOQUEIA-TUDO seq 5 deny any ip prefix-list RECURSIVO seq 5 permit 10.10.10.10/32 ! ipv6 prefix-list BLOQUEIA-TUDO_V6 seq 5 deny any ipv6 prefix-list RECURSIVO_V6 seq 5 permit fc00::10:10:10:10/128 ! line vty !
Após configurar a sessão BGP no lado do router, verifique se as sessões foram estabelecidas IPv4 e IPv6. No nosso servidor podemos checar assim:
# vtysh -c 'show bgp summary'
Deve exibir algo parecido assim:
IPv4 Unicast Summary: BGP router identifier 192.0.2.2, local AS number 65000 vrf-id 0 BGP table version 1 RIB entries 1, using 192 bytes of memory Peers 2, using 43 KiB of memory Neighbor V AS MsgRcvd MsgSent TblVer InQ OutQ Up/Down State/PfxRcd PfxSnt 192.0.2.1 4 65000 427529 407165 0 0 0 20w1d08h 0 1 2001:db8::192:0:2:1 4 65000 427517 407160 0 0 0 20w1d08h NoNeg Total number of neighbors 2 IPv6 Unicast Summary: BGP router identifier 192.0.2.2, local AS number 65000 vrf-id 0 BGP table version 1 RIB entries 1, using 192 bytes of memory Peers 1, using 21 KiB of memory Neighbor V AS MsgRcvd MsgSent TblVer InQ OutQ Up/Down State/PfxRcd PfxSnt 2001:db8::192:0:2:1 4 65000 427517 407160 0 0 0 20w1d08h 0 1 Total number of neighbors 1
Podemos observar que não estamos recebendo nenhum prefixo do router e estamos apenas anunciando 1 prefixo IPv4 e 1 IPv6. Vejamos quais são:
# vtysh -c 'show ip bgp neighbors 192.0.2.1 advertised-routes' BGP table version is 1, local router ID is 192.0.2.2, vrf id 0 Default local pref 100, local AS 65000 Status codes: s suppressed, d damped, h history, * valid, > best, = multipath, i internal, r RIB-failure, S Stale, R Removed Nexthop codes: @NNN nexthop's vrf id, < announce-nh-self Origin codes: i - IGP, e - EGP, ? - incomplete Network Next Hop Metric LocPrf Weight Path *> 10.10.10.10/32 0.0.0.0 0 100 32768 i Total number of prefixes 1
# vtysh -c 'show ip bgp ipv6 neighbors 2001:db8::192:0:2:1 advertised-routes' BGP table version is 1, local router ID is 192.0.2.2, vrf id 0 Default local pref 100, local AS 65000 Status codes: s suppressed, d damped, h history, * valid, > best, = multipath, i internal, r RIB-failure, S Stale, R Removed Nexthop codes: @NNN nexthop's vrf id, < announce-nh-self Origin codes: i - IGP, e - EGP, ? - incomplete Network Next Hop Metric LocPrf Weight Path *> fc00::10:10:10:10/128 :: 0 100 32768 i Total number of prefixes 1
Podemos observar que nossos IPs já estão sendo anunciados para o router e vocês devem checar se estão sendo recebidos pelo router. Não estamos entrando em detalhes na parte do router pois este pode ser de qualquer fabricante como por exemplo: Cisco, Huawei, Juniper, Mikrotik, outro FRR, etc.
Configurando o Unbound
Não entraremos em detalhes sobre cada parâmetro da configuração do Unbound, porque isso fugiria bastante do objetivo deste artigo. Ao invés disso, criaremos o arquivo /etc/unbound/unbound.conf.d/local.conf e dentro dele teremos o seguinte:
server: verbosity: 1 statistics-interval: 0 statistics-cumulative: no extended-statistics: yes num-threads: 4 interface: 127.0.0.1 interface: 10.10.10.10 interface: fc00::10:10:10:10 interface: ::1 interface-automatic: no outgoing-interface: 192.0.2.2 outgoing-interface: 2001:db8::192:0:2:2 outgoing-range: 8192 outgoing-num-tcp: 20 incoming-num-tcp: 20 so-rcvbuf: 4m so-sndbuf: 4m edns-buffer-size: 1232 msg-cache-size: 100m msg-cache-slabs: 4 num-queries-per-thread: 8192 rrset-cache-size: 200m rrset-cache-slabs: 4 infra-cache-slabs: 4 do-ip4: yes do-ip6: yes do-udp: yes do-tcp: yes access-control: 203.0.113.0/24 allow access-control: 2001:db8:1111::/48 allow chroot: "" username: "unbound" directory: "/etc/unbound" logfile: "/var/log/unbound/unbound.log" use-syslog: no log-time-ascii: yes log-queries: no pidfile: "/var/run/unbound.pid" root-hints: "/etc/unbound/named.cache" hide-identity: yes hide-version: yes unwanted-reply-threshold: 10000000 prefetch: yes prefetch-key: yes rrset-roundrobin: yes minimal-responses: yes val-clean-additional: yes val-log-level: 1 key-cache-slabs: 4 python: remote-control: control-enable: yes server-key-file: "/etc/unbound/unbound_server.key" server-cert-file: "/etc/unbound/unbound_server.pem" control-key-file: "/etc/unbound/unbound_control.key" control-cert-file: "/etc/unbound/unbound_control.pem" auth-zone: name: "." master: "b.root-servers.net" master: "c.root-servers.net" master: "f.root-servers.net" master: "g.root-servers.net" master: "k.root-servers.net" master: "xfr.cjr.dns.icann.org" master: "xfr.lax.dns.icann.org" fallback-enabled: yes for-downstream: no for-upstream: yes zonefile: "/var/lib/unbound/root.zone"
Os parâmetros relevantes acima são:
Como nosso servidor possui 4 cores, colocamos 4 em num-threads também: num-threads: 4 O interface indica quais IPs ficarão escutando o serviço na porta 53/udp/tcp para serem consultados pelo servidor e assinantes: interface: 127.0.0.1 interface: 10.10.10.10 interface: fc00::10:10:10:10 interface: ::1 O outgoing-interface indica por quais IPs serão feitas as consultas de DNS para o mundo: outgoing-interface: 192.0.2.2 outgoing-interface: 2001:db8::192:0:2:2 Habilita consultas IPv4 e IPv6, udp e tcp: do-ip4: yes do-ip6: yes do-udp: yes do-tcp: yes Libera a consulta DNS para origem desses prefixos, troque pelos prefixos reais do seu ASN: access-control: 203.0.113.0/24 allow access-control: 2001:db8:1111::/48 allow Esse trecho abaixo é referente à configuração do Hyperlocal: auth-zone: name: "." master: "b.root-servers.net" master: "c.root-servers.net" master: "f.root-servers.net" master: "g.root-servers.net" master: "k.root-servers.net" master: "xfr.cjr.dns.icann.org" master: "xfr.lax.dns.icann.org" master: "l.root-servers.net" master: "m.root-servers.net" fallback-enabled: yes for-downstream: no for-upstream: yes zonefile: "/var/lib/unbound/root.zone"
Após a configuração do Unbound basta reiniciar o serviço unbound e verificar se o arquivo /var/lib/unbound/root.zone foi criado com o conteúdo dos Root Servers.
Vamos alterar o /etc/resolv.conf para acertar as consultas locais e diminuir o timeout que precisaremos mais a frente no script que fará o teste se o DNS continua funcionando e em caso negativo, retirar o anúncio dos IPs:
nameserver 127.0.0.1 nameserver ::1 options timeout:1 attempts:1
Feito isso teste se seu servidor está resolvendo os hosts na Internet por exemplo:
# host www.uol.com.br 127.0.0.1 Using domain server: Name: 127.0.0.1 Address: 127.0.0.1#53 Aliases: www.uol.com.br is an alias for dftex7xfha8fh.cloudfront.net. dftex7xfha8fh.cloudfront.net has address 99.84.22.115 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has address 99.84.22.71 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has address 99.84.22.8 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has address 99.84.22.27 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has IPv6 address 2600:9000:21ed:6200:1:5a19:8b40:93a1 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has IPv6 address 2600:9000:21ed:f000:1:5a19:8b40:93a1 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has IPv6 address 2600:9000:21ed:f400:1:5a19:8b40:93a1 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has IPv6 address 2600:9000:21ed:7800:1:5a19:8b40:93a1 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has IPv6 address 2600:9000:21ed:ac00:1:5a19:8b40:93a1 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has IPv6 address 2600:9000:21ed:8a00:1:5a19:8b40:93a1 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has IPv6 address 2600:9000:21ed:f200:1:5a19:8b40:93a1 dftex7xfha8fh.cloudfront.net has IPv6 address 2600:9000:21ed:fc00:1:5a19:8b40:93a1 # host www.terra.com.br ::1 Using domain server: Name: ::1 Address: ::1#53 Aliases: www.terra.com.br is an alias for www.terra.com.br.edgesuite.net. www.terra.com.br.edgesuite.net is an alias for a1799.dscb.akamai.net. a1799.dscb.akamai.net has address 23.73.211.226 a1799.dscb.akamai.net has address 23.73.211.186 a1799.dscb.akamai.net has IPv6 address 2600:1419:d400::1749:d78a a1799.dscb.akamai.net has IPv6 address 2600:1419:d400::1749:d7d9
Ok funcionando e resolvendo tanto via IPv4 quanto via IPv6. Caso queira testar localmente com os IPs 10.10.10.10 e fc00::10:10:10:10 você terá que adicioná-los no nosso local.conf do Unbound no parâmetro access-control liberando o 10.10.10.10/32 e fc00::10:10:10:10/128. Você também pode usar o programa dig para testar seu DNS recursivo:
# apt install bind9-dnsutils
# dig @127.0.0.1 www.terra.com.br ; <<>> DiG 9.16.15-Debian <<>> @127.0.0.1 www.terra.com.br ; (1 server found) ;; global options: +cmd ;; Got answer: ;; ->>HEADER<<- opcode: QUERY, status: NOERROR, id: 33258 ;; flags: qr rd ra; QUERY: 1, ANSWER: 4, AUTHORITY: 0, ADDITIONAL: 1 ;; OPT PSEUDOSECTION: ; EDNS: version: 0, flags:; udp: 1232 ;; QUESTION SECTION: ;www.terra.com.br. IN A ;; ANSWER SECTION: www.terra.com.br. 58 IN CNAME www.terra.com.br.edgesuite.net. www.terra.com.br.edgesuite.net. 21512 IN CNAME a1799.dscb.akamai.net. a1799.dscb.akamai.net. 18 IN A 23.196.224.219 a1799.dscb.akamai.net. 18 IN A 23.196.225.9 ;; Query time: 0 msec ;; SERVER: 127.0.0.1#53(127.0.0.1) ;; WHEN: qua jun 30 10:09:19 -03 2021 ;; MSG SIZE rcvd: 153
# dig @::1 www.terra.com.br ; <<>> DiG 9.16.15-Debian <<>> @::1 www.terra.com.br ; (1 server found) ;; global options: +cmd ;; Got answer: ;; ->>HEADER<<- opcode: QUERY, status: NOERROR, id: 63261 ;; flags: qr rd ra; QUERY: 1, ANSWER: 4, AUTHORITY: 0, ADDITIONAL: 1 ;; OPT PSEUDOSECTION: ; EDNS: version: 0, flags:; udp: 1232 ;; QUESTION SECTION: ;www.terra.com.br. IN A ;; ANSWER SECTION: www.terra.com.br. 17 IN CNAME www.terra.com.br.edgesuite.net. www.terra.com.br.edgesuite.net. 21471 IN CNAME a1799.dscb.akamai.net. a1799.dscb.akamai.net. 17 IN A 23.196.225.9 a1799.dscb.akamai.net. 17 IN A 23.196.224.219 ;; Query time: 0 msec ;; SERVER: ::1#53(::1) ;; WHEN: qua jun 30 10:10:00 -03 2021 ;; MSG SIZE rcvd: 153
Vamos testar se nosso Hyperlocal está funcionando? Vamos fazer uma consulta de um host com nome absurdo e que não existe na Internet, sem o Hyperlocal habilitado:
# dig @127.0.0.1 wws.sssss.ssss ; <<>> DiG 9.16.15-Debian <<>> @127.0.0.1 wws.sssss.ssss ; (1 server found) ;; global options: +cmd ;; Got answer: ;; ->>HEADER<<- opcode: QUERY, status: NXDOMAIN, id: 51541 ;; flags: qr rd ra ad; QUERY: 1, ANSWER: 0, AUTHORITY: 1, ADDITIONAL: 1 ;; OPT PSEUDOSECTION: ; EDNS: version: 0, flags:; udp: 1232 ;; QUESTION SECTION: ;wws.sssss.ssss. IN A ;; AUTHORITY SECTION: . 3600 IN SOA a.root-servers.net. nstld.verisign-grs.com. 2021063000 1800 900 604800 86400 ;; Query time: 312 msec ;; SERVER: 127.0.0.1#53(127.0.0.1) ;; WHEN: qua jun 30 10:49:24 -03 2021 ;; MSG SIZE rcvd: 118
Repare que a resposta do Root Server levou 312 msec. Agora vamos fazer a mesma consulta com o Hyperlocal habilitado e unbound reiniciado:
# dig @127.0.0.1 wws.sssss.ssss ; <<>> DiG 9.16.15-Debian <<>> @127.0.0.1 wws.sssss.ssss ; (1 server found) ;; global options: +cmd ;; Got answer: ;; ->>HEADER<<- opcode: QUERY, status: NXDOMAIN, id: 48429 ;; flags: qr rd ra ad; QUERY: 1, ANSWER: 0, AUTHORITY: 1, ADDITIONAL: 1 ;; OPT PSEUDOSECTION: ; EDNS: version: 0, flags:; udp: 1232 ;; QUESTION SECTION: ;wws.sssss.ssss. IN A ;; AUTHORITY SECTION: . 86397 IN SOA a.root-servers.net. nstld.verisign-grs.com. 2021063000 1800 900 604800 86400 ;; Query time: 0 msec ;; SERVER: 127.0.0.1#53(127.0.0.1) ;; WHEN: qua jun 30 10:52:21 -03 2021 ;; MSG SIZE rcvd: 118
Com as tabelas locais, a mesma consulta levou 0 msec. Muito bom não é mesmo?
Próximo passo é configurar os IPs 10.10.10.10 e fc00::10:10:10:10 em algum dispositivo ou estação da rede e testar se está funcionando a resolução de nomes. Se chegamos até aqui com tudo funcionando então perfeito.
Vamos configurar agora um script que vai checar se o nosso DNS parou de resolver nomes e se isso ocorrer, ele deixará de anunciar os IPs de DNS para o router. Nesse caso o outro DNS continuará respondendo com os mesmos IPs.
Script do Servidor 1
/root/teste_dns.sh
#!/usr/bin/env bash #Script para teste de DNS v1.2 #----------------------------------------------------------------------- #Informe um domínio por linha: dominios_testar=( www.google.com www.terra.com.br www.uol.com.br www.globo.com www.facebook.com www.youtube.com www.twitch.com www.discord.com www.debian.org www.redhat.com ) corte_taxa_falha=100 #Porcentagem de falha para executar uma ação #----------------------------------------------------------------------- qt_falhas=0 qt_total="${#dominios_testar[@]}" echo "total_dominios: $qt_total" for site in "${dominios_testar[@]}" do resp='' resolver="127.0.0.1" echo " - dominio $site - $resolver" resp=$( host $site $resolver | grep "connection timed out" ) if [ ! -z "$resp" ]; then ((qt_falhas++)) echo "[$resp]" fi done taxa_falha=$((qt_falhas*100/qt_total)) echo "Falhas $qt_falhas/$qt_total ($taxa_falha%)" if [ "$taxa_falha" -ge "$corte_taxa_falha" ]; then habilitado="`vtysh -c 'show run' | grep \"neighbor 192.0.2.1 prefix-list BLOQUEIA-TUDO out\"`" if [ "$habilitado" == "" ]; then vtysh -c 'conf t' -c 'router bgp 65000' -c 'address-family ipv4 unicast' -c 'no neighbor 192.0.2.1 prefix-list RECURSIVO out' -c 'neighbor 192.0.2.1 prefix-list BLOQUEIA-TUDO out' -c 'end' -c 'wr' vtysh -c 'conf t' -c 'router bgp 65000' -c 'address-family ipv6 unicast' -c 'no neighbor 2001:db8::192:0:2:1 prefix-list RECURSIVO_V6 out' -c 'neighbor 2001:db8::192:0:2:1 prefix-list BLOQUEIA-TUDO out' -c 'end' -c 'wr' echo "caiu: `date`" >> /root/dnsreport.log fi exit fi habilitado="`vtysh -c 'show run' | grep \"neighbor 192.0.2.1 prefix-list RECURSIVO out\"`" if [ "$habilitado" == "" ]; then vtysh -c 'conf t' -c 'router bgp 65000' -c 'address-family ipv4 unicast' -c 'no neighbor 192.0.2.1 prefix-list BLOQUEIA-TUDO out' -c 'neighbor 192.0.2.1 prefix-list RECURSIVO out' -c 'end' -c 'wr' vtysh -c 'conf t' -c 'router bgp 65000' -c 'address-family ipv6 unicast' -c 'no neighbor 2001:db8::192:0:2:1 prefix-list BLOQUEIA-TUDO out' -c 'neighbor 2001:db8::192:0:2:1 prefix-list RECURSIVO_V6 out' -c 'end' -c 'wr' echo "voltou: `date`" >> /root/dnsreport.log fi
Sim. Para entender o que está escrito acima você precisa conhecer um pouco de linguagem de shell script em bash. Fique à vontade em melhorar ou até mesmo criar seu próprio script em outra linguagem. O conceito é bem simples e usado apenas para testar se nosso DNS está resolvendo pra fora. Porque você pode não estar conseguindo, por algum motivo, consultar na Internet pelas portas 53/udp e/ou 53/tcp e que poderia ser causado por algum bloqueio ou problema de fato na rede. Caso is aconteça usaremos os comandos vtysh via shell, para alterar a nossa configuração no FRR e bloquear os anúncios. Uma outra coisa que fica como dever de casa: no script ele gera um relatório de quando tem problema no DNS e quando volta a funcionar. Você pode pesquisar e utilizar os pacotes do Debian msmtp e msmtp-mta, configurar ele e o script para enviar um e-mail em caso de problemas. Como não sou mau, você pode achar informação sobre isso, nos slides de uma palestra que apresentei no FiqueEmCasaUseDebian bem aqui.
Vamos agora colocar o script para rodar no cron adicionando a seguinte linha em /etc/crontab:
*/1 * * * * root /root/teste_dns.sh
Terminamos aqui o Servidor 1 de DNS Anycast com Hyperlocal. Para configurar o servidor 2, basta fazer os mesmos procedimentos usados no servidor 1 mas mudando os dados de conexão. Vou colocar abaixo apenas as configurações que serão diferentes.
Instalação e configuração do Servidor 2 - apenas as diferenças
Configurando a rede
/etc/network/interfaces:
# This file describes the network interfaces available on your system # and how to activate them. For more information, see interfaces(5). source /etc/network/interfaces.d/* # The loopback network interface auto lo iface lo inet loopback auto lo:0 iface lo:0 inet static address 10.10.10.10/32 iface lo:0 inet6 static address fc00::10:10:10:10 netmask 128 # The primary network interface auto ens160 iface ens160 inet static address 192.0.2.6/30 gateway 192.0.2.5 iface ens160 inet6 static address 2001:db8:aaaa::192:0:2:6 netmask 64 gateway 2001:db8:aaaa::192:0:2:5
Configurando o FRR e a sessão BGP com o router
Em /etc/frr/daemons modifique o valor bgpd=no para bgpd=yes, dessa forma habilitaremos o BGP no FRR. Feito isso precisaremos reiniciar o serviço frr:
# systemctl restart frr.service
Nosso arquivo /etc/frr/frr.conf ficará assim:
frr version 7.5 frr defaults traditional hostname unbound2 log syslog informational no ip forwarding no ipv6 forwarding service integrated-vtysh-config ! router bgp 65000 bgp router-id 192.0.2.6 no bgp ebgp-requires-policy no bgp network import-check neighbor 192.0.2.5 remote-as 65000 neighbor 2001:db8:aaaa::192:0:2:5 remote-as 65000 ! address-family ipv4 unicast network 10.10.10.10/32 neighbor 192.0.2.5 prefix-list BLOQUEIA-TUDO in neighbor 192.0.2.5 prefix-list RECURSIVO out exit-address-family ! address-family ipv6 unicast network fc00::10:10:10:10/128 neighbor 2001:db8:aaaa::192:0:2:5 activate neighbor 2001:db8:aaaa::192:0:2:5 prefix-list BLOQUEIA-TUDO_V6 in neighbor 2001:db8:aaaa::192:0:2:5 prefix-list RECURSIVO_V6 out exit-address-family ! ip prefix-list BLOQUEIA-TUDO seq 5 deny any ip prefix-list RECURSIVO seq 5 permit 10.10.10.10/32 ! ipv6 prefix-list BLOQUEIA-TUDO_V6 seq 5 deny any ipv6 prefix-list RECURSIVO_V6 seq 5 permit fc00::10:10:10:10/128 ! line vty !
Configurando o Unbound
Não entraremos em detalhes sobre cada parâmetro da configuração do Unbound, porque isso fugiria bastante do objetivo deste artigo. Ao invés disso, criaremos o arquivo /etc/unbound/unbound.conf.d/local.conf e dentro dele teremos o seguinte:
server: verbosity: 1 statistics-interval: 0 statistics-cumulative: no extended-statistics: yes num-threads: 4 interface: 127.0.0.1 interface: 10.10.10.10 interface: fc00::10:10:10:10 interface: ::1 interface-automatic: no outgoing-interface: 192.0.2.6 outgoing-interface: 2001:db8:aaaa::192:0:2:6 outgoing-range: 8192 outgoing-num-tcp: 20 incoming-num-tcp: 20 so-rcvbuf: 4m so-sndbuf: 4m edns-buffer-size: 1232 msg-cache-size: 100m msg-cache-slabs: 4 num-queries-per-thread: 8192 rrset-cache-size: 200m rrset-cache-slabs: 4 infra-cache-slabs: 4 do-ip4: yes do-ip6: yes do-udp: yes do-tcp: yes access-control: 203.0.113.0/24 allow access-control: 2001:db8:1111::/48 allow chroot: "" username: "unbound" directory: "/etc/unbound" logfile: "/var/log/unbound/unbound.log" use-syslog: no log-time-ascii: yes log-queries: no pidfile: "/var/run/unbound.pid" root-hints: "/etc/unbound/named.cache" hide-identity: yes hide-version: yes unwanted-reply-threshold: 10000000 prefetch: yes prefetch-key: yes rrset-roundrobin: yes minimal-responses: yes val-clean-additional: yes val-log-level: 1 key-cache-slabs: 4 python: remote-control: control-enable: yes server-key-file: "/etc/unbound/unbound_server.key" server-cert-file: "/etc/unbound/unbound_server.pem" control-key-file: "/etc/unbound/unbound_control.key" control-cert-file: "/etc/unbound/unbound_control.pem" auth-zone: name: "." master: "b.root-servers.net" master: "c.root-servers.net" master: "f.root-servers.net" master: "g.root-servers.net" master: "k.root-servers.net" master: "l.root-servers.net" master: "m.root-servers.net" fallback-enabled: yes for-downstream: no for-upstream: yes zonefile: "/var/lib/unbound/root.zone"
Script do Servidor 2
/root/teste_dns.sh
#!/usr/bin/env bash #Script para teste de DNS v1.2 #----------------------------------------------------------------------- #Informe um domínio por linha: dominios_testar=( www.google.com www.terra.com.br www.uol.com.br www.globo.com www.facebook.com www.youtube.com www.twitch.com www.discord.com www.debian.org www.redhat.com ) corte_taxa_falha=100 #Porcentagem de falha para executar uma ação #----------------------------------------------------------------------- qt_falhas=0 qt_total="${#dominios_testar[@]}" echo "total_dominios: $qt_total" for site in "${dominios_testar[@]}" do resp='' resolver="127.0.0.1" echo " - dominio $site - $resolver" resp=$( host $site $resolver | grep "connection timed out" ) if [ ! -z "$resp" ]; then ((qt_falhas++)) echo "[$resp]" fi done taxa_falha=$((qt_falhas*100/qt_total)) echo "Falhas $qt_falhas/$qt_total ($taxa_falha%)" if [ "$taxa_falha" -ge "$corte_taxa_falha" ]; then habilitado="`vtysh -c 'show run' | grep \"neighbor 192.0.2.5 prefix-list BLOQUEIA-TUDO out\"`" if [ "$habilitado" == "" ]; then vtysh -c 'conf t' -c 'router bgp 65000' -c 'address-family ipv4 unicast' -c 'no neighbor 192.0.2.5 prefix-list RECURSIVO out' -c 'neighbor 192.0.2.5 prefix-list BLOQUEIA-TUDO out' -c 'end' -c 'wr' vtysh -c 'conf t' -c 'router bgp 65000' -c 'address-family ipv6 unicast' -c 'no neighbor 2001:db8:aaaa::192:0:2:5 prefix-list RECURSIVO_V6 out' -c 'neighbor 2001:db8:aaaa::192:0:2:5 prefix-list BLOQUEIA-TUDO out' -c 'end' -c 'wr' echo "caiu: `date`" >> /root/dnsreport.log fi exit fi habilitado="`vtysh -c 'show run' | grep \"neighbor 192.0.2.5 prefix-list RECURSIVO out\"`" if [ "$habilitado" == "" ]; then vtysh -c 'conf t' -c 'router bgp 65000' -c 'address-family ipv4 unicast' -c 'no neighbor 192.0.2.5 prefix-list BLOQUEIA-TUDO out' -c 'neighbor 192.0.2.5 prefix-list RECURSIVO out' -c 'end' -c 'wr' vtysh -c 'conf t' -c 'router bgp 65000' -c 'address-family ipv6 unicast' -c 'no neighbor 2001:db8:aaaa::192:0:2:5 prefix-list BLOQUEIA-TUDO out' -c 'neighbor 2001:db8:aaaa::192:0:2:5 prefix-list RECURSIVO_V6 out' -c 'end' -c 'wr' echo "voltou: `date`" >> /root/dnsreport.log fi
Chegamos ao final deste artigo e espero que tenha sido útil para a comunidade. Lembre-se que temos que pensar no futuro da Internet e é muito importante que usemos IPv6 em todas as nossas implementações de rede, sejam servidores, equipamentos ou aplicações.
Autor: Marcelo Gondim